Ministra anuncia “morte” das capitais da Cultura
26-10-2006
A ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, anunciou hoje no debate do Orçamento de Estado na generalidade, no Parlamento, o fim das capitais nacionais da Cultura.
A ministra afirmou que esta decisão política deve-se ao facto de estes projectos não terem tido consequências na formação e fidelização de público.Segundo as palavras da ministra, "não houve retorno" no investimento feito."As cidades não se renovaram através da cultura", disse ainda a Isabel Pires de Lima.
Recorde-se que as capitais nacionais da Cultura foram Coimbra, em 2004, e Faro, em 2005.A ministra afirmou ser preferível canalizar os dinheiros públicos para apoios estruturantes, nomeadamente para o programa Território/Artes, que será anunciado em breve, e para a rede bibliográfica.
Relativamente às artes, a governante anunciou um aumento de 1,2 milhões de euros, em apoios financeiros.
Ministra equivocou-se ao acabar com as capitais da cultura
27-10-2006
O comissário do evento Faro/2005, última capital nacional da Cultura, António Rosa Mendes, acusou hoje a ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, de se "equivocar ao terminar com as capitais da cultura" e discordou das justificações por ela apresentadas.
"Devia-se ter reformulado estes eventos e não acabado com eles, seguramente aprenderíamos com os erros do passado", disse o último dos comissários da iniciativa.
Quinta-feira, durante o debate parlamentar do Orçamento de Estado na generalidade, Isabel Pires de Lima anunciou o fim das capitais nacionais da Cultura, com o argumento de que Coimbra/2003 e Faro/2005 não tinham tido consequências na formação e fidelização de público.
"Isso não é verdade", respondeu hoje António Rosa Mendes, em declarações à Lusa, sustentando que "o público que hoje, no Algarve, enche teatros e auditórios, é outro público, com outra apetência crítica, e isso deveu-se à Faro/2005".
De acordo com o ex-comissário, as premissas da ministra "não têm sustentação real", porque "não existem revoluções culturais e uma capital da cultura não pode, num ano, transformar radicalmente a realidade desfavorável de uma região".
Rosa Mendes defende o alargamento deste tipo de eventos para três anos em cada cidade. "O primeiro ano - precisou - para aquecer os motores, o segundo seria o pleno das iniciativas e um terceiro para a consolidação".
Para demonstrar que a capital da cultura no Algarve "deixou uma sementezinha" na população local, exemplificou com o caso de Querença, aldeia do concelho de Loulé em que o grupo lisboeta O Bando se manteve durante três meses e ali "construiu uma relação duradoura com a população".
Evocou ainda "as muitas aldeias algarvias visitadas pela iniciativa Cinema Fora do Sítio, que nunca teriam visto cinema se não fosse a capital da cultura".
"Foi proporcionado ao público algarvio, pela primeira vez, um conjunto de iniciativas a que de outro modo não teriam acesso, desde ver uma peça da Cornucópia até ao Pedro Burmester ou à Orquestra Sinfónica de Lisboa", sublinhou.
"O que as capitais da cultura faziam era descentralizar os grandes eventos de Lisboa e Porto e isso não será feito daqui para a frente", lamentou, argumentando que os 5,2 milhões de euros investidos em Faro são um valor muito abaixo do que custa anualmente o Centro Cultural de Belém.
Acerca do "investimento sem retorno" invocado pela ministra da Cultura para justificar a decisão, Rosa Mendes questionou: "Por que continua então o Estado a investir em eventos mundanos e sem interesse no Algarve?".
Exemplificou com o concerto de Tony Carreira no Estádio Algarve e com o concerto dos britânicos Simple Minds, ambos apoiados por dinheiros públicos e o último dos quais constituiu um fiasco de bilheteira.
O ex-comissário lamentou a desilusão causada a Évora, cidade "que se estava a preparar há já muito tempo" para o evento, em 2007, que "seguramente correria melhor do que Faro, como Faro correu melhor do que Coimbra".
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