domingo, outubro 22, 2006

Beja: Burgueses, Aberrações, Anti-Património Vandalizam Património Ancestral

Beja

Município denuncia destruição de necrópole


O município de Beja denunciou na sexta-feira que uma necrópole da Idade do Ferro, perto de Baleizão, foi alvo de destruição irreversível e que apresentou uma queixa-crime por destruição de património arqueológico e profanação de cadáver.



Em comunicado, enviado ao final da tarde, a Câmara Municipal de Beja explica ter sido alertada quinta-feira para a «profunda e violenta destruição» da necrópole do Cerro Furado, localizada numa herdade na freguesia rural de Baleizão.


Em declarações à Agência Lusa, Isabel Ricardo, do serviço de Arqueologia da autarquia, afiançou que, «mal chegou o alerta», uma equipa foi mobilizada para o local, tendo-se deparado com o acto de «vandalismo e destruição», o qual não terá «ocorrido há mais do que uma semana».

«Contactámos o Instituto Português de Arqueologia (IPA), que não sabia de nada e enviou meios para nos auxiliar, nomeadamente na apresentação de uma queixa-crime, já formalizada, para a instauração de um inquérito que apure os responsáveis», frisou.



Segundo realça a autarquia, a necrópole do Cerro Furado, de «elevado interesse patrimonial e científico», era, «há largos anos, sistematicamente pilhada e destruída por actos de vandalismo e uso ilegal de detectores de metais para venda e tráfico de bens arqueológicos».



Só que, argumentou Isabel Ricardo, ao contrário dessas acções anteriores, que eram «circunscritas a uma pequena área», desta feita «a destruição estende-se a praticamente toda a zona ocupada pela necrópole».


«A necrópole ocupa umas largas dezenas de metros quadrados e os danos agora causados são irreversíveis porque, desta vez, foi utilizado um tractor, com uma outra máquina acoplada que abriu uma série de veios na terra, com cerca de 40 centímetros de profundidade», adiantou.

Uma escavação que, acrescentou, «foi o suficiente para destruir todo o contexto arqueológico do sítio, já que as urnas da necrópole estão a pouca profundidade».


A GNR, que costuma patrulhar o local, algo isolado, «não detectou o acto de vandalismo», disse Isabel Ricardo, sublinhando que o proprietário da herdade «também não e sempre colaborou na sua preservação».


«Vários tractores estavam a realizar trabalhos agrícolas em zonas próximas, mas o proprietário, que sempre esteve disponível para a salvaguarda do sítio, garantiu-nos que não enviou qualquer máquina para o local», afirmou.


A arqueóloga da câmara realçou ainda que se tratava de «um conjunto de grande valor», porque estava integrado num povoado da Idade do Ferro, o que é raro detectar.


«É muito raro encontrar um povoado desse período com uma necrópole, ainda para mais com a dimensão que esta tinha», frisou Isabel Ricardo.


A Câmara Municipal pretende que o caso seja investigado pelas autoridades competentes, frisando que «jamais» poderá «pactuar com acções de destruição premeditada desta natureza, perpetradas por verdadeiros criminosos que atentam contra a herança comunitária do concelho e do país».


Em Abril deste ano, a autarquia assinou com o IPA um protocolo para apoio logístico e financeiro para uma intervenção de emergência na necrópole, mas, até agora, ainda se encontrava a aguardar «uma agenda dos trabalhos» por parte da entidade.




«Apesar da sintonia de esforços com a extensão de Castro Verde do IPA, não houve, a nível da direcção, uma resposta em tempo real, protelando indefinidamente um caminho que culminou com a destruição irreversível de um conjunto único a nível nacional», critica o município.




Diário Digital / Lusa
21-10-2006

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