quarta-feira, setembro 27, 2006

Mais uma cidade Cónia



CIDADE DE LOULÉ


Pré-História

Com o valioso contributo da arqueologia sabe-se, hoje, que a presença do homem no Concelho de Loulé remonta ao Paleolítico Antigo. Não obstante, até aos finais do Neolítico não se constata uma completa ocupação do território. É provável que, a formação e o desenvolvimento do povoamento, na área da actual cidade de Loulé, se tenham verificado durante este último período, através de comunidades que utilizavam habitats precários, eventualmente rotativos, próprios de agricultores e pastores itinerantes, as quais se encontram associadas à ocupação de inúmeras cavidades subterrâneas existentes na proximidade (Goldra, Esparguina e Matos da Nora).





Início do Período Histórico

Nos milénios seguintes, no período da Era dos Metais, intensifica-se a incursão dos povos do Mediterrâneo Oriental, que progressivamente penetram no Sudoeste Peninsular, e que culmina com a chegada dos Fenícios e dos Cartagineses que fundaram as primeiras feitorias na orla marítima do Concelho, incrementando a actividade piscatória, a prospecção da metalurgia e a actividade comercial.






Antiguidade e Alta Idade Média


A partir dos meados do século II a.C., após a Segunda Guerra Púnica, os Romanos dão novo impulso às actividades económicas desenvolvendo a indústria conserveira, a agricultura e a exploração mineira do cobre e do ferro. Até ao momento, na área urbana de Loulé, os vestígios materiais da ocupação romana, cingem-se a uma ara consagrada à Deusa Diana (final do século II d.C.) outrora incrustada na torre de S. Clemente, existindo contudo, na sua proximidade, topónimos de vilas rústicas (Clareanes e Apra) e necrópoles que documentam o modo intenso e organizado como o território foi ocupado. No século V, Suevos e Vândalos, e posteriormente os Visigodos , desagregam o Império Romano mas são facilmente cativados pela sua superioridade civilizacional, adaptando e assimilando os modelos anteriores do povoamento e experiências culturais das populações autóctones.







Invasão Muçulmana

Com a chegada dos Muçulmanos , no século VIII, nasce a urbe medieval que virá a gerar a cidade histórica actual. Al-'Ulya' (Loulé) é-nos descrita, pela primeira vez, nas vésperas da reconquista cristã, nas crónicas árabes de Ibne Saíde e Abd Aluhaid como sendo, uma pequena Almedina (Cidade) fortificada e próspera, pertencendo ao Reino de Niebla, sob o comando do Taifa Ibne Mafom.


Esta descrição não deixa de ser relevante apesar dos cronistas, na alusão à Al-'Ulya' , se terem preocupado em focar aspectos do estatuto urbano e valor estratégico da Almedina, omitindo por completo qualquer tipo de menção sobre o traçado urbano e arquitectónico.

A segunda metade do século XII e princípios do século XIII foi uma época marcada por grande instabilidade política e militar no mundo islâmico, com dissensões internas que se reflectem em todo o Garb Andaluz, assistindo-se a um movimento generalizado de construções militares. É bem possível que Al-'Ulya' tenha sido fortificada durante este período.









Reconquista

Do primitivo Castelo Almorávida/Almóada resta, praticamente intacta, a torre albarrã em taipa (Torre da Vela) situada na antiga Rua da Corredora (actual Rua Engº Duarte Pacheco).


Em 1249, D. Afonso III auxiliado por D. Paio Peres Correia, Cavaleiro e Mestre da Ordem de Santiago, conquista o Castelo de Loulé aos "mouros" fazendo a sua integração plena na Côroa Portuguesa, no momento em que concede o primeiro Foral à "Vila" em 1266.

O segundo Foral foi aos "mouros forros", em 1269, que tinham sido remetidos para o arrabalde a sul da "Porta de Faro", dando origem ao bairro da Mouraria no qual persistem, ainda hoje, ruelas estreitas e tortuosas e topónimos medievais como Rua da Mouraria e Rua dos Oleiros.





Baixa Idade Média


O efeito da reconquista cristã em termos imediatos, revelou-se negativo para a economia da região, pois terminou com o ciclo do comércio com o norte de África e a Andaluzia.


Em 1291, tentando inverter esta tendência, D. Dinis ordenou que se fizesse uma feira na Vila de Loulé, única em todo o Algarve, com a duração de 15 dias, no mês de Setembro. Esta feira realizava-se no Rossio, frente à Horta D’El Rei, junto à "Porta de Silves". Este novo modelo de economia de base agrícola, submetido a um sistema de trocas a nível regional, não foi suficiente para que a região suprimisse o isolamento e a estagnação que se prolongariam até aos finais do século XIV.


O ambiente desolador em que Loulé se encontrava está expresso nas Actas de Vereação de 1385, pela voz do Camareiro-Mor João Afonso, segundo o qual a Vila estava bastante despovoada, o seu Castelo estava ermo de muralhas e no seu interior existiam bastantes pardieiros. Para minorar a situação, D. João I incentiva, com privilégios especiais, a população residente no termo da Vila a habitar o interior da Cerca e doa o pardieiro, em frente à Igreja de S. Clemente, para construção de um adro.


Ainda segundo as referidas Actas, corria no Concelho a notícia de que o Rei de Castela se preparava para entrar em Portugal. Para precaver um eventual ataque, a Vereação decidiu reparar a Torre que encimava a "Porta de Faro" e levantar as muralhas e ameias do flanco sul do recinto amuralhado.


Esta área foi, até ao séc. XVI e por razões de defesa e de acessibilidade, o principal espaço urbanístico e via de penetração ao interior da Vila. Do Largo da Matriz partia um conjunto de artérias - Rua Martim Farto, Rua da Cadeia e Rua da Matriz - que faziam a ligação aos diferentes equipamentos e espaços públicos da urbe, Alcaidaria, edifício da Vereação, Cadeia e Portas do Castelo.


No período dos "Descobrimentos e Expansão Marítima", a região do Algarve, nomeadamente Loulé, inicia um novo ciclo de crescimento económico. A actividade comercial é reanimada.


No contexto regional, Loulé ocupa um lugar de destaque no plano da exportação do vinho, do azeite, dos frutos secos, do artesanato, do sal e do peixe. Esta prosperidade permitiu que se realizassem importantes obras de recuperação dos espaços públicos e a construção de novos equipamentos. Em 1400, a nascente e fora de portas, construia-se a Igreja de Nossa Senhora dos Pobres.




Em 1422, as muralhas do Castelo são reedificadas por D. Henrique de Meneses, 1º Conde de Loulé. Em 1471, a antiga albergaria é transformada, por ordem de D. Afonso V, no primeiro Hospital do Algarve, para socorrer os soldados feridos que regressavam das campanhas de Tânger. A norte e também fora de muros, estruturam-se espaços habitacionais organizados entre as ruas do Poço, a Travessa do Outeiro, a Rua da Laranjeira e a Rua do Alto de São Domingos, onde a Visitação da Ordem de Santiago de 1565 refere ter existido a Ermida de São Domingos. Finalmente e a poente, era construída a Ermida de São Sebastião e, a menos de meia légua do centro urbano e ao cimo do outeiro, erguia-se a Ermida de Nossa Senhora da Piedade.







Idade Moderna


Desde os finais do século XVI a meados do séc. XVII, o Reino vive, contudo, a perda da Independência no palco de Alcácer Quibir.



Na região e particularmente na Vila de Loulé, a segurança das populações encontrava-se bastante ameaçada em virtude dos ataques redobrados que os "mouros" faziam à costa. Alexandre Massay, no levantamento que fez do Castelo de Loulé entre 1617-1618, a pedido de D. João de Castro, na altura governador do Algarve, refere que a maior parte dos muros em taipa se encontram danificados e caídos.



A partir de 1620, a vitalidade económica do Algarve começa a decrescer, a população estagna e a instabilidade política persiste, contribuindo para o efeito a pirataria berbere.



A expansão urbana de Loulé, no séc. XVII, foi afectada pelo período de recessão que a região e o País viviam, embora se tenha verificado um ligeiro acréscimo de construções e equipamentos religiosos. A nascente, fora de Portas, construiu-se, em 1600, a Igreja das Portas do Céu. Em três das cinco Portas do Castelo, da "Vila", de "Faro" e do "Sol", ergueram-se três ermidas: de Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora do Pilar e de Nossa Senhora do Carmo.



No interior da Cerca adossado às muralhas construiu-se a Igreja do Espírito Santo, recuperou-se e ampliou-se, em 1693 (12), o edifício anexo para o Convento das Freiras de Nossa Senhora da Conceição. A poente e no termo da Vila, D. Francisco Barreto, II Bispo do Algarve, lançava a 1ª Pedra do Convento de Santo António, em 1675 (13).


Após a Restauração, o Castelo perde gradualmente o valor defensivo. No entanto, as áreas adossadas às muralhas, tanto no interior como no exterior, não se libertam ainda para novas construções.







Século XVIII


Na primeira metade do século XVIII, durante o reinado de D. João V , Portugal viveu um clima de prosperidade económica sustentado pelo ouro do Brasil. Neste contexto e aproveitando a actividade artística e cultural inserida no espírito do Barroco, o interior das Igrejas e Capelas da Vila são enriquecidas e valorizadas com excelentes retábulos em talha dourada e em azulejaria, obras que foram executadas pelos melhores artifíces da região e fábricas do País. Mas o desenvolvimento urbanístico deste período é marcado por um conjunto de construções civis sem significado arquitectónico que aproximam as áreas habitacionais marginais ao núcleo antigo, nomeadamente a oeste da Cerca do Convento da Graça, a sul na antiga Corredoura, a nascente do antigo Largo dos Inocentes e da antiga Rua da Carreira e a norte da Rua da Praça e da Rua da Laranjeira.



O terramoto de 1755 destruiu grande parte da Vila. As torres do Castelo partiram-se, as muralhas desmoronaram-se, a Igreja do Convento da Graça caíu, o Convento do Espírito Santo e a Igreja Matriz sofreram graves rombos, as edificações civis que não ruiram ficaram inabitáveis e o edifício da Câmara ficou de tal forma arruinado que as sessões passaram a ser realizadas numa pequena casa na Rua Ancha passando, depois, a ter lugar num edifício ao fundo da Praça.




Após a reconstrução da Vila começaram a surgir em vários pontos da malha urbana residências apalaçadas, já com certas comodidades pertencentes à burguesia local. Entre os principais edifícios, destacam-se o palacete abrasonado, ao cimo da Rua de Portugal, da família Gama Lobos (1775), o solar, ao fundo da Rua Ancha, da família Barros e Aragões (onde os franceses estiveram aquartelados até à sua expulsão em 1808), o solar da Rua de Santo António, da família dos Palermos e o solar dos Silveiras situado no alto da Praça. Estas artérias passam, agora, a ser as áreas residenciais socialmente mais importantes da Vila.



No 1º quartel do séc. XIX, a instabilidade política gerada pelas invasões napoleónicas, a partida da Corte para o Brasil e as lutas liberais, que ainda se arrastaram por alguns anos, provocaram uma crise na economia e, em consequência, veio a verificar-se um abrandamento no panorama da arquitectura e urbanismo da Vila.









Século XIX

Para fazer face aos encargos financeiros do Estado e consolidar o crédito público, o então Ministro da Fazenda, Mouzinho da Silveira decreta a venda dos bens nacionais e a expropriação dos bens conventuais. É assim que, na sequência destas reformas, o Convento do Espírito Santo, encerrado em 1836, é ocupado pela Câmara Municipal e Tribunal Judicial, a igreja conventual é desactivada e transformada em Teatro e as áreas adossadas às velhas muralhas do Castelo de Loulé são loteadas e ocupadas para fins residenciais e comerciais. No entanto, a maior transformação operada no plano urbanístico deu-se em 1873, com a abertura da Av. Marçal Pacheco, que permitiu ligar o sector nascente ao sector poente da Vila através da Rua da Praça (actual Av. Praça da República); demoliu-se, então, a ermida do Carmo e parte da muralha a ela adossada. A Rua da Praça era, já, não só o eixo principal da circulação mas o espaço mais importante da prática social, económica e cultural. Em 1885 passa a simbolizar, também, o principal espaço político em virtude do Paço Municipal ter sido transferido para o edifício onde, ainda hoje, se encontra.


Até ao final do séc. XIX, a vila expande-se para poente, iniciando-se a urbanização da Quinta do Olival de S. Francisco, área que se veio a integrar na jovem Freguesia de S. Sebastião, criada por decreto régio em 1890, a partir da divisão da secular Freguesia de S. Clemente.


Este novo espaço foi concebido segundo um desenho urbano "moderno" de características recticuladas, ruas desenhadas a partir de caminhos existentes formando quarteirões rectangulares e espaços públicos nas suas intercepções com forma triangular.

No plano da arquitectura não se produziu mais do que edifícios de corrente vernácula, típicos da região, que reflectiam com coerência o tecido social que os compunha. É importante salientar que o aumento demográfico e urbanístico, que ocorre neste período, está associado ao fenómeno da industrialização que acabou por atrair a Loulé a população das freguesias do interior do Concelho e fora deste, para trabalharem em pequenas unidades fabris artesanais que entretanto aqui se vieram instalar.


A par deste processo, registou-se a evolução dos transportes, a construção da linha férrea no Algarve em 1887 e o desenvolvimento das vias de comunicação, que contribuiram no seu conjunto para a profunda mudança no modo de viver da população. No entanto, algumas infra-estruturas e equipamentos básicos só no decorrer do século XX é que passaram a ser equacionados de forma prioritária.








Século XX


Antes mesmo da instauração da 1ª República foi construído o Mercado Municipal (1904-1907), projecto do arquitecto Mota Gomes , um dos edifícios mais notáveis da arquitectura contemporânea local. Esta obra veio alterar substancialmente o desenho urbano da área central da vila, provocando o derrube considerável da muralha do castelo assim como alguns edifícios de melhor qualidade aí existentes. Contudo, a obra de maior alcance urbanístico foi realizada em 1918 com a abertura da Avenida José da Costa Mealha, onde a burguesia endinheirada de então aproveitou para construir alguns dos mais belos exemplares da arquitectura civil deste século.





Até à implantação do Estado Novo registam-se algumas obras importantes em prol da modernização do espaço urbano, das quais se destacam a iluminação eléctrica, em 1916, em substituição da iluminação a petróleo, e a construção do cemitério no Sítio da Costa em 1918. Data desse período o início do abastecimento público de água ao centro urbano da vila.



Durante o regime saído do golpe militar de 28 de Maio de 1926 até Abril de 1974, o crescimento de Loulé processa-se de forma moderada: são urbanizadas as transversais na Avenida José da Costa Mealha e é rasgada a actual Avenida 25 de Abril. Deste longo período, as edificações públicas mais expressivas foram o Cine-Teatro Louletano do Arq.º J. Baptista Mendes e o Monumento ao Eng.º Duarte Pacheco concebido pelo Arq.º Cristino da Silva.



Nos últimos anos assistiu-se a uma acelerada construção em Loulé. A nordeste, a nascente e a sul da Avenida José da Costa Mealha, enormes edifícios de habitação colectiva têm vindo a ocupar antigas propriedades agrícolas e edificações de arquitectura tradicional. Em prol do "desenvolvimento" cometeram-se, por vezes, graves prejuízos na imagem arquitectónica e paisagística da cidade, nomeadamente, no seu Centro Histórico, sendo o caso mais gritante o da antiga Horta D’El Rei.



A partir de 1985, desenha-se uma tendência no sentido de se controlar e inverter a filosofia anterior, a fim de se harmonizarem os mais altos valores culturais e históricos expressos na Vila Medieval com os da Cidade actual, que pretende continuar a modernizar-se.

sábado, setembro 16, 2006

Silves - "Rocha Branca"

História da Minha Cidade - "Rocha Branca"





São antigos os vestígios da ocupação do lugar. Dos tempos pré-históricos ficaram por Silves e arredores menires e artefactos testemunhando agricultura intensiva e exploração do minério de cobre. A necrópole da Idade do Bronze de Alfarrobeira, na Serra, os menires Neolíticos do Barrocal ou os achados romanos que aumentam na zona Litoral, comprovam povoamento continuado. A 2 km a Oeste da cidade existem(íam) os restos do que teria sido uma importante feitoria do 1º milénio a.C., activa muitos anos depois de Cristo, muito provavelmente chamada Cilpes, com relações comerciais com o Mediterrâneo e seus civilizados povos: fenícios, gregos, cartagineses...


Da época romana poderá ser a ocupação urbana na actual colina de Silves.

Fortemente muralhada, conquistada uma primeira vez em 1189 por tropas cristãs portuguesas comandadas pelo rei Sancho I auxiliadas pelos Cruzados, caiu novamente nas mãos dos Mouros em 1191 e só foi definitivamente conquistada para Portugal em meados do séc. XIII. Logo se tornou a capital de todo o Algarve e a sua sede episcopal e militar. No séc. XV irá ainda participar activamente nas viagens marítimas de descobrimento portuguesas.


Afinal Silves era o mais importante concelho do barlavento algarvio. A sua jurisdição administrativa, civil e religiosa, estendia-se então, embora com interrupções, até Sagres, usufruindo ainda de um relativamente importante porto e estaleiro onde ao longo dos séculos anteriores aportara certamente muita experiência e conhecimento essênciais à aventura que Diogo de Silves em meados do séc. XV ao serviço do Infante D. Henrique empreendeu: a descoberta do arquipélago dos Açores.


Mas surgiam já os primeiros sinais da sua decadência. O rio, porta de ligação ao exterior, fonte da riqueza dos seus contactos, assoreava-se, isolava a cidade e tornava-a insalubre. Os bispos mudavam-se para Faro em 1577 e com eles se transferia o que restava da importância da cidade. No séc. XVIII o Terramoto de 1755, e depois as guerras entre liberais e absolutistas dos inícios do seguinte, que a figura local do guerrilheiro Remexido ainda lembram, reduzem a cidade a uma quase aldeia.


Mas Silves lutava para não morrer. Na 2ª metade do séc. XIX, princípios deste, o comércio e a transformação da cortiça da sua Serra e do vizinho Alentejo fizeram-na renascer. Torna-se uma cidade operária e industrial, crescendo em população e novos edifícios, burgueses e operários, despertando política e culturalmente para os valores sindicalistas e republicanos que ainda hoje a marcam.


A 2ª Guerra Mundial e o seu termo põem fim ao ciclo da cortiça e da transformação de frutos secos que uma agricultura sobretudo de sequeiro produzia.


A construção da Barragem do Arade e de importantes infra-estruturas de irrigação dão início a um novo ciclo, o da Laranja, e da citricultura de que Silves e o seu Concelho são hoje, mesmo sem grandes dividendos, capital nacional. A riqueza virgem do seu enorme interior serrano, que importa revitalizar, o valioso património construído, um dia talvez também acessível através do seu belo rio, o valor e beleza do seu litoral, são actualmente os principais trunfo de desenvolvimento e merecido destaque do Concelho no contexto regional.


Silves antiga




Monumentos:

Castelo de Silves


O castelo de Silves ocupa o topo da colina onde assenta a cidade de Silves. As muralhas que constituem a fortaleza apresentam a forma de polígono irregular com uma área aproximada de 12 mil metros quadrados. As defesas são erigidas em arenito vermelho, grés de Silves, tendo sido alteradas pelos vários sismos que assolaram a região, e consequentes reconstruções. A última ocorreu nos anos 40 do século XX, mantendo no entanto, o seu perímetro medieval.
O monumento é composto por várias torres de planta rectangular, verificando-se a existência de duas de tipo albarrã, (torres afastadas da muralha ligadas a esta por um arco), situando-se as três maiores a Norte e Noroeste. A poente encontramos quatro torres adossadas à muralha e as restantes três implantam-se a Sul.



O interior do castelo guarda vários elementos arquitectónicos relevantes, destacando-se na Zona Norte, o "Aljibe", grande cisterna de planta rectangular, sendo coberta por abóbadas assentes em colunas quadrangulares. A Sul, apresenta-se a "Cisterna dos Cães", a nascente procedeu-se a trabalhos de investigação arqueológica, que mostram estruturas de habitações palatinas. A residência mais a Sul é composta por dois pisos, jardim interior, complexo de banhos, pertencentes ao Período Almoada (séc. XIII). Na área central da alcáçova, poderá observar silos, que correspondem a estruturas subterrâneas destinadas ao armazenamento de mantimentos.


Historiadores e arqueólogos defendem a ocupação deste lugar e a existência de um recinto amuralhado pelo menos desde o período romano, povo que terá dado a forma inicial à cidade. A muralha existente poderá ter sido erigida neste período e posteriormente alterada e aumentada pelos Árabes, todavia, as investigações arqueológicas têm revelado pouco no que se refere aos períodos anteriores à presença islâmica no local.


A invasão muçulmana do actual território português ocorreu no século VIII, (711), permanecendo esta cultura quase cinco séculos no Sul de Portugal. A primeira conquista cristã sucede em 1189, a cidade capitula após prolongado cerco no dia 3 de Setembro, dois anos depois deste isolado assalto, os árabes irrompem pela península ibérica e recuam as fronteiras cristãs até ao rio Tejo. Na primeira metade do século XIII D. Paio Peres Correia inicia a conquista do actual território algarvio submetendo definitivamente a cidade de Silves ao domínio cristão em 1248.





Palacete Aurora Grade


Enquadramento urbano, abre fachadas principais e laterais para vias de circulação, Rua Samora Barros e Rua Alexandre Herculano, a outra fachada lateral e posterior para logradouro ajardinado.


O edifício mostra planta rectangular, disposta na horizontal com cobertura diferenciada em dois telhados de três águas e um de duas águas. A fachada principal orientada a Norte, com dois pisos e friso divisório entre estes, cimalha rematada por platibanda. O pano central é rasgado por vãos emoldurados de cantaria com arcos de volta perfeita e ombreiras ladeadas com aparelho almofadado; porta central com arco delimitado por emolduramento a janela central com arco delimitado por pilastras e rematado por corpo da platibanda, com pedra d'armas e coroa. Os panos laterais apresentam três vãos por piso, no andar nobre, três janelas de sacada, emolduradas, de verga recta arquitravada com balcão de balaustrada ao centro e balaustrada à face.


O início da construção terá ocorrido em 1907.






Pelourinho


Os fragmentos do pelourinho estão patentes na Praça do Município. O único elemento original que resta é uma coroa decorada com elementos em forma de flor-de-lis que remata a actual composição. Esta procura reproduzir a original descrita.


O pelourinho estava situado na actual praça do município de onde foi retirado em 1878, quando foi construída a estrada macadame que vinha de S. Bartolomeu de Messines. Foi desmantelado e as suas peças dispersas. A coroa e os ferros estavam depositados no museu Arqueológico Infante D. Henrique em Faro. A Câmara Municipal de Silves na década de 90 procede à sua reconstrução na Praça do município.








Ponte Romana de Silves


A Ponte Velha de Silves, em termos arquitectónicos, possui uma grande mistura de estilos. Pois, se por um lado os arcos são de volta perfeita intervalados por imponentes talha-mares à boa maneira romana, por outro, o tabuleiro da ponte é ogivado à boa maneira medieval. Se há historiadores/arqueólogos, especialistas no período romano que afirmam ter encontrado na ponte, vestígios de "opus signinum" (material construtivo romano), outros, medievalistas, referem ter observado, em inúmeras pedras da Ponte, as características siglas de canteiro (marcas deixadas pelos canteiros nas pedras que talhavam), como acontecia sempre no período medieval cristão.


Se por um lado não nos é difícil imaginar, engenhosos e obreiros como eram os romanos, que a cidade ao ter existido naquela época, como se crê, teria decerto uma ponte para atravessar o Rio Arade, naquele tempo de dimensões substancialmente maiores, por outro, conhecem-se relatos da presença de homens-bons de Silves, numa das cortes convocadas para Leiria, na 2ª metade do século XV, a agradecer ao monarca a construção da ponte. É pois possível que no período de ocupação romana existisse uma ponte naquele local o que justificaria os restos de "opus signinum" testemunhados por Maria Luísa S. A. Estácio da Veiga, no entanto, a enorme quantidade de siglas de canteiro observáveis nas pedras da ponte, permitem-nos afirmar com alguma certeza, de que a mesma se enquadrará cronologicamente no período medieval cristão. Sondagens arqueológicas efectuadas recentemente no seu tabuleiro, evidenciaram fragmento cerâmico datável do século XV, ao nível de uma estruturação em argamassa que suportaria um lajeado, o que confirma não só a fonte escrita atrás referida, como está de acordo com a utilização das aludidas siglas de canteiro.



Importante meio de comunicação desde aquela época, de pessoas e veículos provindos de lugares a sul da cidade, tinham de aceder a Silves sobrepondo o Rio Arade, deixou de ter circulação automóvel desde os anos 50, altura em que a nova ponte, obra do Estado Novo, a remeteu para um planos secundário.


Mede cerca de 75 m de comprimento e detém uma largura de 4,5 m. Possui cinco dos seis arcos que a compunham, é utilizado na sua construção um arenito da região designado por “grés de Silves”, apresentando actualmente um reboco em argamassa nas faces externas e internas das suas guardas que se encontram caiadas de branco.










Tradição - Artesanato



A tradição e actividade artesanal deste concelho, evidencia-se pela sua qualidade e diversidade. A cortiça, a verga, a pedra grés e a lata são alguns dos materiais utilizados para o fabrico de peças únicas confeccionadas pelos artesãos da terra.

Os costumes e os hábitos ancestrais, ainda podem ser observados através dos trabalhos de empreita e esparto que ocupam alguns dos artesãos e que mantém vivas as antigas técnicas e tradições.


Para recordar a gloriosa tradição da indústria corticeira, poderá visitar o Museu da Cortiça no interior da Fábrica do Inglês em Silves.






Serra

Manifestamente serrano, o concelho de Silves oferece uma multiplicidade de recursos alternativos ao produto sol e praia.
Dotado de uma elevada qualidade ambiental, apresenta uma paisagem diversificada com extensas áreas naturais.
Apostada em valorizar o interior serrano, a edilidade tem desenvolvido uma panóplia de acções que visam acima de tudo promover a dinamização das zonas do interior assim como evitar o isolamento das gentes que permanecem nestes lugares.
As acções desenvolvidas tem passado não só pela manutenção dos acessos já existentes e pela criação de novas estradas e caminhos, como também pelo desenvolvimento de itinerários turísticos, que tem como objectivo dar a conhecer a riqueza ambiental existente.

domingo, setembro 03, 2006

História das cidades e vilas algarvias

História de Lagoa



O nome da hoje Cidade que é sede de Freguesia terá surgido com o primitivo aglomerado populacional que nasceu em redor de um lago ou de uma lagoa viu as terras árabes serem integradas no reino de Portugal pela espada de D. Paio Peres Correia e dos cavaleiros de Santiago, entre 1242 e 1246
O simples e humilde “lugar” de Lagoa ficou então integrado no termo de Silves. As propriedades desenvolviam-se e cresciam; o próprio rei não abdicava destas terras e era senhor de um vasto património rústico que entregava aos seus vassalos e locatários. Mas muitos dos locatários desses figueirais e das vinhas, nomeadamente de Lobite, eram mouros livres que por ali ficaram após a reconquista cristã. No século XIV, cristãos e mouros partilhavam as terras, as figueiras, as searas e as vinhas; coziam o pão nos fornos do rei. Nas terras de Loubite, a caça abundava, desde animais de pequeno porte como o coelho até ao veado. Parece mentira, mas numa época, afinal não muito distante, havia veados em Lagoa.






















O legado Pré-Histórico e Clássico



Há muita coisa que “não se vê” em Lagoa, mas que faz parte integrante da memória colectiva através do seu passado mais remoto. Trata-se de vestígios únicos e riquíssimos que projectam a Freguesia para outros campos, longe da popularidade, mas na elevação da antiguidade de uma terra de valores infindáveis. Salientamos, nesses aspectos:
  • as praias plistocénicas, com vestígios dos Períodos paleolítico, epipaleolítico e neolítico, como as jazidas de Benagil e da Marinha;os arqueosítios das mesmas épocas, como a Torrinha, Lobite, Bemposta, Lombos, Monte da Fazenda e Caramujeira. Neste local, conhecido pela sua casta vinícola, tal como na zona de Bemparece, os testemunhos históricos estendem-se à Idade dos Metais.



    • Na Caramujeira foram encontrados alguns dos mais belos exemplares de menires fálicos do Neolítico. Os menires repetem-se no sítio do Mato Pinheiro, destacando-se o exemplar que está exposto no jardim do Convento de S. José em Lagoa.











    • Das marcas seculares à Lagoa do futuro


      As marcas históricas de Lagoa não terminam aqui. Num ou noutro edifício, sem grande dificuldade, podemos encontrar:

      • a encimar as frontarias e as platibandas estatuetas religiosas ou profanas de pequeno porte. Com mais facilidade encontramos pequenos pormenores sacros criteriosamente escolhidos para enfeitar as fachadas e as ombreiras, santos protectores em azulejos, sempre com o condão de anjo da guarda, sempre com a missão de intermediários entre Deus e os homens, sempre com o papel da protecção divina. São marcas da profunda religiosidade das gentes Lagoenses, no respeito e na fé.



      O mesmo respeito continua na arquitectura da agora jovem cidade algarvia, na genuinidade da sua área mais antiga que podia constituir um autêntico centro histórico, demarcado naturalmente pelas:

      • antigas casas térreas, com portas manuelinas, das quais se destaca, entre outras, a casa da rua Pinheiro Chagas, com a sua curiosa porta de arestas chanfradas com a verga decorada com gomos.



        • Mas também as casas senhoriais e os belíssimos sobrados das Idades Moderna e Contemporânea sobreviveram até aos nossos dias, como são disso exemplo a Casa Pessanha ou a Casa Júdice Ferreira, ou outras, como o actual Cartório Notarial e o antigo Registo Civil. Admirada nos seus valores, até a nova imagem da Rua 25 de Abril, a grande aposta pedonal da jovem Cidade, está plenamente enquadrada no conjunto e dá-lhe mais vida.











        • Dados interessantes de um passado longíncuo


          A Idade dos Metais e o Período Romano continuam no Poço Partido - lugar de moinhos de ventos - com o registo de uma necrópole romana. Também na área da Vila de Lagoa agora cidade desde 19 de Abril de 2001,os vestígios passam por várias épocas da História, desde o Neolítico à Idade dos Metais, passando pelo Período Romano.


          A herança medieval: as Alcarias - Aldeias medievais, com origem muçulmana, as Alcarias, no entender do estudioso algarvio José Pedro Machado, derivam do topónimo árabe al-qariâ (aldeia), como se usava largamente no século XIII. Em Lagoa ficaram algumas, como a Alcaria da Bem-posta, da qual restam ruínas e a de Loubite (ou Lobito) que, no século XVI, ainda era habitada por muitos mouros forros. Desta época medieval, ainda ficaram testemunhos de uma pedreira, no sítio das Cercas.
















          História de Lagoa




          No século XVI, Frei João de S. José, testemunha a fertilidade das terras Lagoenses, referindo que os habitantes secaram a antiga Lagoa de água estagnada, uma vez que, «alem de ficar a terra mais sadia, dava-se nella muito pão e toda a semente que lhe deytão dá em grande abundância».



          O facto de Lagoa fazer parte do território de Silves, numa situação de subjugação, nunca foi bem aceite por parte dos Lagoenses, de tal modo que surgiam conflitos, nomeadamente a partir do século XV, até que a Rainha D. Leonor deu alguma autonomia ao lugar, atribuindo-lhe poderes próprios para questões de justiça. Era o reconhecimento real da importância e crescimento de Lagoa. No século seguinte, nos constantes desentendimentos entre moradores Lagoenses e os oficiais de Silves, o Juiz de Fora dessa cidade foi insultado pelo povo numa das suas visitas de trabalho a Lagoa. As proporções da rebeldia e insubordinação foram tais que D. João III teve de agir. Reconhecendo as razões de uma localidade em expansão, o rei mandou libertar os insubordinados no desacato, determinou que os moradores de Lagoa pudessem votar para as eleições da cidade - tal como os silvenses - e concedeu que um dos três vereadores de Silves fosse, obrigatoriamente, morador em Lagoa. Determinou também que o escrivão de Lagoa pudesse fazer escrituras públicas, tal como faziam os tabeliães de Silves.



          Nesses tempos em que o poder eclesiástico tinha, igualmente, mão pesada, o povo de Lagoa nem por isso se deixou intimidar e reivindicou, mais uma vez, os seus direitos legítimos. Obrigados a ir às procissões religiosas a Silves, um dia os Lagoenses revoltaram-se e recusaram-se a ir.





          A povoação estava à mercê dos piratas que visitavam as costas algarvias e entravam por terra adentro para devastar tudo, pilhar os bens, violar mulheres, matar homens e crianças, ou levá-los cativos. Os habitantes de Lagoa decidiram ficar em casa, de atalaia, para defender o que era seu.

          Mas, porque não foram às procissões, a Igreja de Silves confiscou-lhes as armas e os bens. Os humildes Lagoenses, indignados, socorreram-se a D. Sebastião. O rei, como outros tinham feito anteriormente, deu-lhes a razão e isentou-os da obrigatoriedade de irem às procissões de Silves.



          Finalmente, a 16 de Janeiro de 1773, por alvará régio de D. José, Lagoa foi elevada à categoria de Vila e desanexada do termo de Silves. Outro alvará criava o lugar de Juiz de Fora e Órfãos na Vila de Lagoa. Passando a pertencer à Casa da Rainha, com os mesmos privilégios das outras vilas do reino, Lagoa recebia, como termo, os lugares de Estômbar, Mexilhoeira da Carregação e Ferragudo.



          Hoje, a Cidade de Lagoa, Sede da Freguesia e do Concelho, continua a reflectir a coragem dos homens que não se deixaram vencer pelas adversidades, mas que tiveram de sobreviver e evoluir por si, sozinhos.



          Uma região que não deixou as suas potencialidades agrícolas em “mãos alheias”, uma terra virada para a agricultura, com solos férteis a pequena profundidade, com os benefícios da protecção dos maciços montanhosos das serras do Caldeirão e Monchique, partilha, com os concelhos vizinhos, um micro-clima extraordinário.


          Vinhas, cereais, azeite, azeitona, amêndoa, figo, alfarroba e citrinos são exemplos da produção Lagoense. A sua cultura vinícola, muito antiga, vai desde o litoral às grandes extensões de vinhas que avançam para Norte até ao actual termo de Silves. Antigas são, igualmente, as outras culturas, já descritas na Corografia do Reino do Algarve, de 1841, da autoria de Silva Lopes que fala dos férteis campos lagoenses e, a dado passo, diz o seguinte: «Hum bosque continuado de frondosas oliveiras, amendoeiras, alfarrobeiras e figueiras com extensas várzeas, que produzem muito trigo; largas vinhatarias entre os figueirais, e algum sumagre; semeado de vários cazaes, que tornão estes campos bastante acompanhados». Silva Lopes refere-se ainda à existência de três lagares de azeite, de olarias que fabricavam boa louça, à arte da palma, ao apanho e preparo dos frutos. Nesse tempo, diz também o historiador, «ao sahir da villa, caminho de E, fica hum poço de muita boa agua, de que bebem os moradores, e hum tanque contíguo para dar de beber aos gados. Todo o termo desta freguesia, que apenas tem 1 légua de N a S, e pouco menos de E a O he bastante fértil».