Introdução
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É um erro considerarmos a História como um passado que morreu, que já não interessa e que deve ser arquivado. A História é a mais viva das raízes da nossa existência, é a memória colectiva do que os nossos antepassados fizeram para nos oferecer a nossa maneira de ser e estar.
A História escrita por um povo é uma aglomeração de factos consumados, criados por milhões de vontades individuais que, conscientes disso ou não, agiram em conformidade.
Portugal teve um papel de relevo na evolução da humanidade, escrevendo a sua história, não só dentro do seu torrão natal, como também por todo o mundo.
A nossa identidade está ligada às acções dos nossos antepassados como os anéis de crescimento anual dentro do tronco de uma árvore!
Raras vezes damos conta disso, mas tanto as acções positivas como outras criticáveis, tornam-se mais ou menos compreensíveis por derivarem de comportamentos ancestrais. Tantas vezes me lembro disso mesmo quando vejo automobilistas entrarem, sem a mínima precaução, para dentro de um cruzamento, para depois se "desenrascarem" com seja qual for a situação que encontrem! O saltar para o meio da moirama, sem plano, nem grandes probabilidades de sobrevivência, para "dar Santiago neles" até dizer chega e sair gloriosamente, com a cara mais serena do mundo, como se de um simples passeio se tivesse tratado, é uma atitude, no mínimo, insensata, mas é também um desafio ao heroísmo (tangente à loucura), que ainda hoje reconheço na nossa forma de conduzir.
O toureiro dos nossos dias, que esconde a espada por detrás da sua capa, enfrentando um adversário vinte vezes mais pesado, mas não menos ágil, faz-me lembrar o português seiscentista que enrolava a sua capa no braço esquerdo para enfrentar o adversário com capa e espada.
Um outro amigo meu, que foi forcado na sua juventude, disse-me o que sentia quando se colocava à cabeça do seu grupo, incintando o touro, pronto para se lançar sobre a enorme cabeça, evitando os cornos e agarrando-se ao tremendo pescoço do animal, contando que outros o viessem acudir. «Bem, a gente não pisava arena sem se preparar com uma pinga; e, já aí estando, não se podia deixar ficar mal a malta; incitava o animal, fazia o sinal da cruz e será o que Deus quiser». Não me admiro que só em Portugal se enfrenta o touro sem arma de espécie alguma na mão! Não me admiro que muitos dos actuais forcados sejam descendentes dos grandes navegadores e homens de guerra portugueses dos séculos passados!
A dada altura, comandou Afonso de Albuquerque seis naus nossas, com cerca de 400 homens a bordo. Após ter subjugado e, em parte, destruído diversos portos tributários ao Rei de Ormuz, fez o que ninguém julgou possível: entrou na baía de Ormuz, ficando cercado por 250 navios de guerra inimigos e juntando-se, em terra, um exército de 20.000 guerreiros, todos prontos para o aniquilar! Quando o Rei lhe mandou um emissário a bordo para questionar sobre os seus intentos, Afonso de Albuquerque enviou-lhe a seguinte mensagem: «Renda-se!!!»
Não há dúvida de que Albuquerque deve ser um dos antepassados espirituais destes rapazes que, ainda hoje, enfrentam o touro!
Quando, nos anos setenta, vi jovens açorianos desafiarem tudo e todos, deslocarem-se a Lisboa e içarem a bandeira azul e branca com o símbolo do açor protegendo as nove ilhas num mastro do aeroporto da Portela, no Castelo de S.Jorge e no monumento do Marquês de Pombal, vi também mais uns descendentes destes ilimitados portugueses quinhentistas!
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Mergulhando um pouco nas histórias do passado, é possível encontrarmos mais compreensão pelo presente e alguma esperança no futuro, porque a única certeza que os inimigos da lusa gente podem ter é a de que o gene luso encontrará forma de vir ao de cima, derrubando seja o que for que contra ele tramarem.
Rainer Daehnhardt
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