segunda-feira, março 12, 2007
"Homens, Espadas e Tomates" - Rainer Daehnhardt
[...]
É um erro considerarmos a História como um passado que morreu, que já não interessa e que deve ser arquivado. A História é a mais viva das raízes da nossa existência, é a memória colectiva do que os nossos antepassados fizeram para nos oferecer a nossa maneira de ser e estar.
A História escrita por um povo é uma aglomeração de factos consumados, criados por milhões de vontades individuais que, conscientes disso ou não, agiram em conformidade.
Portugal teve um papel de relevo na evolução da humanidade, escrevendo a sua história, não só dentro do seu torrão natal, como também por todo o mundo.
A nossa identidade está ligada às acções dos nossos antepassados como os anéis de crescimento anual dentro do tronco de uma árvore!
Raras vezes damos conta disso, mas tanto as acções positivas como outras criticáveis, tornam-se mais ou menos compreensíveis por derivarem de comportamentos ancestrais. Tantas vezes me lembro disso mesmo quando vejo automobilistas entrarem, sem a mínima precaução, para dentro de um cruzamento, para depois se "desenrascarem" com seja qual for a situação que encontrem! O saltar para o meio da moirama, sem plano, nem grandes probabilidades de sobrevivência, para "dar Santiago neles" até dizer chega e sair gloriosamente, com a cara mais serena do mundo, como se de um simples passeio se tivesse tratado, é uma atitude, no mínimo, insensata, mas é também um desafio ao heroísmo (tangente à loucura), que ainda hoje reconheço na nossa forma de conduzir.
O toureiro dos nossos dias, que esconde a espada por detrás da sua capa, enfrentando um adversário vinte vezes mais pesado, mas não menos ágil, faz-me lembrar o português seiscentista que enrolava a sua capa no braço esquerdo para enfrentar o adversário com capa e espada.
Um outro amigo meu, que foi forcado na sua juventude, disse-me o que sentia quando se colocava à cabeça do seu grupo, incintando o touro, pronto para se lançar sobre a enorme cabeça, evitando os cornos e agarrando-se ao tremendo pescoço do animal, contando que outros o viessem acudir. «Bem, a gente não pisava arena sem se preparar com uma pinga; e, já aí estando, não se podia deixar ficar mal a malta; incitava o animal, fazia o sinal da cruz e será o que Deus quiser». Não me admiro que só em Portugal se enfrenta o touro sem arma de espécie alguma na mão! Não me admiro que muitos dos actuais forcados sejam descendentes dos grandes navegadores e homens de guerra portugueses dos séculos passados!
A dada altura, comandou Afonso de Albuquerque seis naus nossas, com cerca de 400 homens a bordo. Após ter subjugado e, em parte, destruído diversos portos tributários ao Rei de Ormuz, fez o que ninguém julgou possível: entrou na baía de Ormuz, ficando cercado por 250 navios de guerra inimigos e juntando-se, em terra, um exército de 20.000 guerreiros, todos prontos para o aniquilar! Quando o Rei lhe mandou um emissário a bordo para questionar sobre os seus intentos, Afonso de Albuquerque enviou-lhe a seguinte mensagem: «Renda-se!!!»
Não há dúvida de que Albuquerque deve ser um dos antepassados espirituais destes rapazes que, ainda hoje, enfrentam o touro!
Quando, nos anos setenta, vi jovens açorianos desafiarem tudo e todos, deslocarem-se a Lisboa e içarem a bandeira azul e branca com o símbolo do açor protegendo as nove ilhas num mastro do aeroporto da Portela, no Castelo de S.Jorge e no monumento do Marquês de Pombal, vi também mais uns descendentes destes ilimitados portugueses quinhentistas!
[...]
Mergulhando um pouco nas histórias do passado, é possível encontrarmos mais compreensão pelo presente e alguma esperança no futuro, porque a única certeza que os inimigos da lusa gente podem ter é a de que o gene luso encontrará forma de vir ao de cima, derrubando seja o que for que contra ele tramarem.
Rainer Daehnhardt
segunda-feira, março 05, 2007
Nacional-Socialistas incomodam e muito corja esquerdista e capitalista
Cerca de duas mil pessoas manifestaram-se hoje à tarde em Gonzerath, uma pequena aldeia na Alemanha ocidental, contra o projecto do partido neonazi NPD de implantar nesta comuna um centro de formação para os seus quadros.
Gritando “Não ao centro nazi, nem em Gonzerath nem em lado nenhum”, e “Fora os nazis”, os manifestantes, que respondiam a um apelo de vários partidos e organizações de esquerda, desfilaram através da aldeia, enquadrados por uma forte presença policial.
Enquanto os manifestantes agitavam cartazes proclamando “Q ue os nazis vão para a Lua, aí não vive ninguém”, os membros do NPD, entrincheirados na antiga escola da aldeia, que alugaram para aí instalarem o seu centro de formação, tinham desfralda na fachada do edifício uma bandeira onde se podia ler “A Europa para os europeus, não à entrada da Turquia na UE”.
Ajuntamento também junto ao maior cemitério militar da época
Por outro lado, cerca de 150 neonazis reuniram-se pacificamente na mesma altura em Halbe, uma pequena localidade da ex-RDA cerca de 50 km a sul de Berlim.
Em Halbe são frequentes os ajuntamentos extremistas, devido à presença nesta área do maior cemitério militar do Exército da época nazi, que tem 25 mil sepulturas, entre as quais as de muitos SS.
O ajuntamento, que não foi autorizado a chegar muito próximo do cemitério, foi alvo de uma contramanifestação de uma centena de pessoas.Tinham sido mobilizados cerca de 1200 polícias para evitar qualquer incidente entre os dois grupos.
in Público
Cantigas de Amigo - D.Dinis e João Zorro
Constituem a variedade mais importante e original da nossa produção lírica da Idade Média, estas composições que se enquadram na poesia trovadoresca, mas que incluem a particularidade de conferirem estatuto de enunciação à mulher, embora sejam sujeitos masculinos a compô-las.
Um tipo peculiar de cantigas de amigo é o das paralelísticas, que aliam uma simplicidade de motivos e recursos semânticos ao elaborado arranjo da sua expressão, através de um esquema de repetitividade que enriquece o sentido pelo tom de litania e sugestão encantatória, muitas vezes magoada, perplexa ou interrogativa, que cria. Típicas da poesia galaico-portuguesa, encontram-se também nas cantigas de amor e noutras variedades poéticas medievais, persistindo até muito tarde na literatura medieval. O rei D. Dinis é um dos seus mais famosos cultores:
Ai flores, ai flores do verde pinho
se sabedes novas do meu amigo,
ai deus, e u é?
Ai flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado,
ai deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amigo,
aquele que mentiu do que pôs comigo,
ai deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amado,
aquele que mentiu do que me há juradoai deus,
e u é?
(...)
D. Dinis - O Lavrador! O Rei-Agricultor! O Rei-Poeta! O Rei-Trovador!
João Zorro, poeta do mar como Martim Codax, é autor de uma barcarola célebre, em composição também paralelística:
Em Lixboa sobre lo mar
barcas novas mandei lavrar,
ay mia senhor velida!
Em Lisboa sobre lo lez
barcas novas mandei fazer,
ay mia senhor velida!
Barcas novas mandei lavrare no mar as mandei deitar,
ay mia senhor velida!
Barcas novas mandei fazere no mar as mandei meter,
ay mia senhor velida!
João Zorro