domingo, setembro 03, 2006

História das cidades e vilas algarvias

História de Lagoa



O nome da hoje Cidade que é sede de Freguesia terá surgido com o primitivo aglomerado populacional que nasceu em redor de um lago ou de uma lagoa viu as terras árabes serem integradas no reino de Portugal pela espada de D. Paio Peres Correia e dos cavaleiros de Santiago, entre 1242 e 1246
O simples e humilde “lugar” de Lagoa ficou então integrado no termo de Silves. As propriedades desenvolviam-se e cresciam; o próprio rei não abdicava destas terras e era senhor de um vasto património rústico que entregava aos seus vassalos e locatários. Mas muitos dos locatários desses figueirais e das vinhas, nomeadamente de Lobite, eram mouros livres que por ali ficaram após a reconquista cristã. No século XIV, cristãos e mouros partilhavam as terras, as figueiras, as searas e as vinhas; coziam o pão nos fornos do rei. Nas terras de Loubite, a caça abundava, desde animais de pequeno porte como o coelho até ao veado. Parece mentira, mas numa época, afinal não muito distante, havia veados em Lagoa.






















O legado Pré-Histórico e Clássico



Há muita coisa que “não se vê” em Lagoa, mas que faz parte integrante da memória colectiva através do seu passado mais remoto. Trata-se de vestígios únicos e riquíssimos que projectam a Freguesia para outros campos, longe da popularidade, mas na elevação da antiguidade de uma terra de valores infindáveis. Salientamos, nesses aspectos:
  • as praias plistocénicas, com vestígios dos Períodos paleolítico, epipaleolítico e neolítico, como as jazidas de Benagil e da Marinha;os arqueosítios das mesmas épocas, como a Torrinha, Lobite, Bemposta, Lombos, Monte da Fazenda e Caramujeira. Neste local, conhecido pela sua casta vinícola, tal como na zona de Bemparece, os testemunhos históricos estendem-se à Idade dos Metais.



    • Na Caramujeira foram encontrados alguns dos mais belos exemplares de menires fálicos do Neolítico. Os menires repetem-se no sítio do Mato Pinheiro, destacando-se o exemplar que está exposto no jardim do Convento de S. José em Lagoa.











    • Das marcas seculares à Lagoa do futuro


      As marcas históricas de Lagoa não terminam aqui. Num ou noutro edifício, sem grande dificuldade, podemos encontrar:

      • a encimar as frontarias e as platibandas estatuetas religiosas ou profanas de pequeno porte. Com mais facilidade encontramos pequenos pormenores sacros criteriosamente escolhidos para enfeitar as fachadas e as ombreiras, santos protectores em azulejos, sempre com o condão de anjo da guarda, sempre com a missão de intermediários entre Deus e os homens, sempre com o papel da protecção divina. São marcas da profunda religiosidade das gentes Lagoenses, no respeito e na fé.



      O mesmo respeito continua na arquitectura da agora jovem cidade algarvia, na genuinidade da sua área mais antiga que podia constituir um autêntico centro histórico, demarcado naturalmente pelas:

      • antigas casas térreas, com portas manuelinas, das quais se destaca, entre outras, a casa da rua Pinheiro Chagas, com a sua curiosa porta de arestas chanfradas com a verga decorada com gomos.



        • Mas também as casas senhoriais e os belíssimos sobrados das Idades Moderna e Contemporânea sobreviveram até aos nossos dias, como são disso exemplo a Casa Pessanha ou a Casa Júdice Ferreira, ou outras, como o actual Cartório Notarial e o antigo Registo Civil. Admirada nos seus valores, até a nova imagem da Rua 25 de Abril, a grande aposta pedonal da jovem Cidade, está plenamente enquadrada no conjunto e dá-lhe mais vida.











        • Dados interessantes de um passado longíncuo


          A Idade dos Metais e o Período Romano continuam no Poço Partido - lugar de moinhos de ventos - com o registo de uma necrópole romana. Também na área da Vila de Lagoa agora cidade desde 19 de Abril de 2001,os vestígios passam por várias épocas da História, desde o Neolítico à Idade dos Metais, passando pelo Período Romano.


          A herança medieval: as Alcarias - Aldeias medievais, com origem muçulmana, as Alcarias, no entender do estudioso algarvio José Pedro Machado, derivam do topónimo árabe al-qariâ (aldeia), como se usava largamente no século XIII. Em Lagoa ficaram algumas, como a Alcaria da Bem-posta, da qual restam ruínas e a de Loubite (ou Lobito) que, no século XVI, ainda era habitada por muitos mouros forros. Desta época medieval, ainda ficaram testemunhos de uma pedreira, no sítio das Cercas.
















          História de Lagoa




          No século XVI, Frei João de S. José, testemunha a fertilidade das terras Lagoenses, referindo que os habitantes secaram a antiga Lagoa de água estagnada, uma vez que, «alem de ficar a terra mais sadia, dava-se nella muito pão e toda a semente que lhe deytão dá em grande abundância».



          O facto de Lagoa fazer parte do território de Silves, numa situação de subjugação, nunca foi bem aceite por parte dos Lagoenses, de tal modo que surgiam conflitos, nomeadamente a partir do século XV, até que a Rainha D. Leonor deu alguma autonomia ao lugar, atribuindo-lhe poderes próprios para questões de justiça. Era o reconhecimento real da importância e crescimento de Lagoa. No século seguinte, nos constantes desentendimentos entre moradores Lagoenses e os oficiais de Silves, o Juiz de Fora dessa cidade foi insultado pelo povo numa das suas visitas de trabalho a Lagoa. As proporções da rebeldia e insubordinação foram tais que D. João III teve de agir. Reconhecendo as razões de uma localidade em expansão, o rei mandou libertar os insubordinados no desacato, determinou que os moradores de Lagoa pudessem votar para as eleições da cidade - tal como os silvenses - e concedeu que um dos três vereadores de Silves fosse, obrigatoriamente, morador em Lagoa. Determinou também que o escrivão de Lagoa pudesse fazer escrituras públicas, tal como faziam os tabeliães de Silves.



          Nesses tempos em que o poder eclesiástico tinha, igualmente, mão pesada, o povo de Lagoa nem por isso se deixou intimidar e reivindicou, mais uma vez, os seus direitos legítimos. Obrigados a ir às procissões religiosas a Silves, um dia os Lagoenses revoltaram-se e recusaram-se a ir.





          A povoação estava à mercê dos piratas que visitavam as costas algarvias e entravam por terra adentro para devastar tudo, pilhar os bens, violar mulheres, matar homens e crianças, ou levá-los cativos. Os habitantes de Lagoa decidiram ficar em casa, de atalaia, para defender o que era seu.

          Mas, porque não foram às procissões, a Igreja de Silves confiscou-lhes as armas e os bens. Os humildes Lagoenses, indignados, socorreram-se a D. Sebastião. O rei, como outros tinham feito anteriormente, deu-lhes a razão e isentou-os da obrigatoriedade de irem às procissões de Silves.



          Finalmente, a 16 de Janeiro de 1773, por alvará régio de D. José, Lagoa foi elevada à categoria de Vila e desanexada do termo de Silves. Outro alvará criava o lugar de Juiz de Fora e Órfãos na Vila de Lagoa. Passando a pertencer à Casa da Rainha, com os mesmos privilégios das outras vilas do reino, Lagoa recebia, como termo, os lugares de Estômbar, Mexilhoeira da Carregação e Ferragudo.



          Hoje, a Cidade de Lagoa, Sede da Freguesia e do Concelho, continua a reflectir a coragem dos homens que não se deixaram vencer pelas adversidades, mas que tiveram de sobreviver e evoluir por si, sozinhos.



          Uma região que não deixou as suas potencialidades agrícolas em “mãos alheias”, uma terra virada para a agricultura, com solos férteis a pequena profundidade, com os benefícios da protecção dos maciços montanhosos das serras do Caldeirão e Monchique, partilha, com os concelhos vizinhos, um micro-clima extraordinário.


          Vinhas, cereais, azeite, azeitona, amêndoa, figo, alfarroba e citrinos são exemplos da produção Lagoense. A sua cultura vinícola, muito antiga, vai desde o litoral às grandes extensões de vinhas que avançam para Norte até ao actual termo de Silves. Antigas são, igualmente, as outras culturas, já descritas na Corografia do Reino do Algarve, de 1841, da autoria de Silva Lopes que fala dos férteis campos lagoenses e, a dado passo, diz o seguinte: «Hum bosque continuado de frondosas oliveiras, amendoeiras, alfarrobeiras e figueiras com extensas várzeas, que produzem muito trigo; largas vinhatarias entre os figueirais, e algum sumagre; semeado de vários cazaes, que tornão estes campos bastante acompanhados». Silva Lopes refere-se ainda à existência de três lagares de azeite, de olarias que fabricavam boa louça, à arte da palma, ao apanho e preparo dos frutos. Nesse tempo, diz também o historiador, «ao sahir da villa, caminho de E, fica hum poço de muita boa agua, de que bebem os moradores, e hum tanque contíguo para dar de beber aos gados. Todo o termo desta freguesia, que apenas tem 1 légua de N a S, e pouco menos de E a O he bastante fértil».










           

Sem comentários: